domingo, 28 de setembro de 2008

Entrevista

Vertiginosamente percorreu os doze degraus da escada de madeira, pisando forte e, a cada passo, o ranger da árvore tombada. Calculou mentalmente as suas possibilidades, sentia inabalável confiança e mesmo o pior resultado não merecia temor, o pior resultado seria mais um. Apenas um mais. Contrariando as expectativas, a porta impunha sua força com seu metal escuro e pesado, abandonando a elegância do cedro - era justo, a porta corta-fogo se faria necessária diante de tanto degrau que poderia ser queimado, a escada interminável.

O simples sorriso amigável do rapaz que o recebeu lhe era confortante, não fosse àquela porta poderia sentir-se plenamente em casa. Dois outros homens o aguardavam sorrindo, deliciados. Em seus rostos, a sensação de deleite palpável intrigava. Teriam extensa e intensamente pesquisado a respeito de suas qualidades - jovem, elegante, bonito, inteligente, simpático e, ousaria-se levantar possibilidade, bom vizinho? E os mendigos. Era orgulhoso de seu bom relacionamento com os moradores de rua e, muitos mais que para seus filhos, doava(-se) aos pedintes.

- Boa tarde, senhores.
- Boa tarde.

Pouco tempo depois ouvia-se o rangido a cada passo na madeira. Talvez não inabalável, quem sabe, degrau por degrau, apenas abalado. Mas um abalo gentil, momento de respiro interminável, ao qual já estava habituado. Difícil atingir as pessoas influentes, ele pensava. Difícil. O problema, chegou a conclusão, não era ele. O problema são as portas corta-fogo.

Um comentário:

Nícolas Poloni disse...

Bom. O problema mesmo é esse layout. Doem os olhos.