sábado, 24 de setembro de 2011

Tédio

Game shows, seriados, reality shows, cerveja, whisky e rapadura, fracassos completos, o tédio era indestrutível, naquele dia. Rosanne, pensou.

- Alô.
- Alô, Rosanne, aqui é Gilson, o que acha de uma trepada casual?

Melhor não. Virou as páginas, uma a duas, e, quando prendeu a folha entre os dois dedos, girou a cabeça para a direita e esquerda, sentindo a construção de uma ideia rumo à graduação, a lâmpada acendeu, folheou rapidamente as páginas em preto e branco, lambeu os dedos, sentindo o gosto do jornal velho, e discou.

- Alô.
- Alô, Rosanne?
- Oi?
- Desculpa. Lídia? É isso, aí é Lídia?
- Isso, aqui é Lídia.

Talvez tenha sido irônica, não suporto ironias, e desligou.

- Alô.
- Alô.
- Alô-ou?
- Oi, querida.
- Oi, querido.
- Tô precisando de uma trepada.
- Cem reais.
- Tá caro.
- Sou de luxo.
- Chega mais.

Abriu o fecho do vestido, revelando suas belas costas definidas, mas não se deixou abater, seu corpo também era atraente. Sou um homem de pegada.

- Ai.
- Quê?
- O fecho, querido. Prendeu na minha pele.

Chupei o sangue e terminei com uma pequena lambida. Ela sorriu.

- Seu doente.

Sentiu o gosto de ferrugem em sua língua, ao se tocarem, o assalto que sofrera, anos atrás, era o que lhe vinha à mente, o gosto da arma em sua boca, não compreendo, os homens adoram meter a arma na boca das mulheres.

- Fase oral.
- Quer que eu te chupe?
- Pode ser, querido.

Ela estava menstruada, mas eu disso estava ciente, ela era uma profissional, no melhor sentido, e deixo meus clientes a par de cada detalhe. Com a boca vermelha, tentou beijá-la, mas não, cara, sai fora, a ideia não a seduzira por completo.

- O que tu quer, então?
- É tu que é o cliente, ora.

Ejaculei e ela sorriu, mentira, ejaculei e ela gargalhou. Foi embora com um sorriso no rosto e cem reais mais rica. Fiquei tentando entender o que levaria uma mulher saudável a gargalhar diante de um orgasmo. O que, francamente, me ocupou pelo resto da noite.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ofício

Quando pediu que ficasse, ficou. O suor escorria pelo rosto, corpo, até chegar aos pés. Ficando, não havia maiores opções para ocupar-se. Talvez lavar a louça, tirar o pó, passar cera nos móveis. Também poderia lavar o chão, encardido, branco havia sido uma escolha equivocada, percebia agora.

Ficando podia pensar. Talvez preparar um bolo, um pão. Deixar a mesa pronta, servida, para que todos sejam surpreendidos e, embora reajam como se aquilo fosse natural, ao menos estaria ocupando a tarde. Bolinhos de chuva, só lembrava deles em temporais. Lavar as janelas poderia ser a melhor opção, estavam há anos intocadas.

Decidiu escrever. Bem ou mal, era sua profissão. Produziu a tarde toda. O resultado, a princípio, lhe pareceu bom, embora futuramente tal impressão pudesse ser desfeita, durante a releitura. Terminou quando se deu por satisfeito.

Com a noite, sua família chegou em casa e percebeu que a louça estava na pia, o chão estava sujo, os móveis cheios de pó e não havia comida nos armários, geladeira ou mesmo sobre a mesa da sala, que sequer havia sido preparada para o jantar.