A filha era pequena, muito pequena e sofria muito, sofria. Ele tinha pouca idade e era pai. Ela pouca e mãe. Desde o diagnóstico da doença, após o parto, suas vidas não eram exatamente as mesmas. A gravidez se dera por acaso, mas não um problema. A notícia foi recebida com felicidade. A doença da filha era muito rara. As noites agora eram em claro. Uma espécie de bênção amaldiçoada e, toda noite, choravam pelos cantos sem que o outro soubesse.
Ela tentava agir como se aquilo tudo fosse natural. Trocava fraldas, passava talco, dava banho, assistia a convulsões. Cada dia um dia.
Ele sentia grande amor pela filha, sentia viver para ela, por ela e era a razão de sua vida. Em uma noite, pegou-se fantasiando com uma outra vida, sem o bebê. Apenas a faculdade, o trabalho, o lazer. Uma vida leve. Sentiu-se uma pessoa ruim, mas não um pouquinho só, uma pessoa má de verdade, porque simplesmente pensar em tal possibilidade o transformava em algo defeituoso.
A mãe foi informada: a filha precisava viajar para tratamento ou morreria ali, em pouco tempo. Viajou junto dos avós. Agora, precisariam apenas aguardar as boas novas.
- Vai dar tudo certo?
- Vai.
- Tenho medo.
- Vai dar certo.
Com toda sua fé, ela tentava manter-se esperançosa. O silêncio imperou por longos instantes até que ele deixou escapar.
- Não seria melhor se ela nos deixasse?
Foi então que ela saiu da cama e o deixou só em seu quarto, deitado, apenas ele e um punhado de dúvidas que nunca teriam resposta.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
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3 comentários:
Gostei.
Não gostei.
De não poder comentar anônimo.
Ah, Bernardo. Não posso controlar isso. Posso? Daí libero. Mas prefiro que tu te mostre. haha
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