quinta-feira, 24 de abril de 2008

Valentina

A filha era pequena, muito pequena e sofria muito, sofria. Ele tinha pouca idade e era pai. Ela pouca e mãe. Desde o diagnóstico da doença, após o parto, suas vidas não eram exatamente as mesmas. A gravidez se dera por acaso, mas não um problema. A notícia foi recebida com felicidade. A doença da filha era muito rara. As noites agora eram em claro. Uma espécie de bênção amaldiçoada e, toda noite, choravam pelos cantos sem que o outro soubesse.

Ela tentava agir como se aquilo tudo fosse natural. Trocava fraldas, passava talco, dava banho, assistia a convulsões. Cada dia um dia.

Ele sentia grande amor pela filha, sentia viver para ela, por ela e era a razão de sua vida. Em uma noite, pegou-se fantasiando com uma outra vida, sem o bebê. Apenas a faculdade, o trabalho, o lazer. Uma vida leve. Sentiu-se uma pessoa ruim, mas não um pouquinho só, uma pessoa má de verdade, porque simplesmente pensar em tal possibilidade o transformava em algo defeituoso.

A mãe foi informada: a filha precisava viajar para tratamento ou morreria ali, em pouco tempo. Viajou junto dos avós. Agora, precisariam apenas aguardar as boas novas.

- Vai dar tudo certo?
- Vai.
- Tenho medo.
- Vai dar certo.

Com toda sua fé, ela tentava manter-se esperançosa. O silêncio imperou por longos instantes até que ele deixou escapar.

- Não seria melhor se ela nos deixasse?

Foi então que ela saiu da cama e o deixou só em seu quarto, deitado, apenas ele e um punhado de dúvidas que nunca teriam resposta.

3 comentários:

Nícolas Poloni disse...

Gostei.

Bernardo disse...

Não gostei.



De não poder comentar anônimo.

Moisés Westphalen disse...

Ah, Bernardo. Não posso controlar isso. Posso? Daí libero. Mas prefiro que tu te mostre. haha